Monday, March 31, 2008

Os olhares e os segredos

Todos os dias nossos olhares se cruzam pela manhã. Eu procuro olhá-la profundamente, procurando desvendar o que aqueles olhos escondem. No entanto, ao passar, ela olha para o chão, absorta em seus pensamentos.

Tem um olhar distante, inquieto, mas por trás daquele mistério há uma breve tristeza na forma como ela olha para o seu redor.

Eu me pergunto o que teria acontecido. Algo na família? No trabalho? No amor? O que aquele olhar esconde? O que procura? O que deseja? Não sei...

Às vezes, gostaria de ter o poder de penetrar atráves daqueles olhos incrivelmente castanhos e desvendar o que eles escondem. Revelar para mim todo o mistério, toda a timidez, acabar com a tristeza.

Mais do que isso, gostaria de poder erguer aqueles olhos para encarar os meus, que todos os dias os admiram e ela nem sequer percebe...


Momento de histeria: "Os olhos mentem dia e noite a dor da gente" (Fernando Anitelli)

Tuesday, March 18, 2008

Essas pequenas importâncias

Saudade...
Do beijo na testa antes do trabalho,
Do calor do corpo na cama,
Do abraço de boas-vindas na rodoviária...

Saudade...
Da maciez dos cabelos entre os dedos,
Da respiração lenta e profunda,
Do beijo na palma da mão...

Saudade...
Do sorriso tímido entre os lábios,
Da voz que fala alto e sem parar,
Dos pés que batem no chão ao compasso da música...

Saudade...
Das andanças pelas ruas da cidade,
Das comilanças nas pizzarias e lanchonetes,
Das brincadeiras na lojas de crianças...

Saudade...
Das horas em frente à TV,
Dos filmes que marcaram nossa infância,
Das buscas por CDs das bandas que gostamos...

Saudade...
Das cartas recheadas de carinho,
Dos e-mails intermináveis,
Das conversas pelo telefone madrugada adentro...

Saudade...
Das viagens sozinhos,
Do fim-de-semana no festival,
Do abraço adormecido no ônibus...

Saudade...
Do cheiro da casa,
Das gargalhadas do pequeno,
Do sabor da comida...

Saudade...
Do som do violão,
Dos dedos no teclado do computador,
Das revistas e gibis...

Saudade...
De um tempo bom,
De um sentimento puro e verdadeiro,
De um amor eterno...


Momento de histeria: "Acho que sempre lhe amarei só que não lhe quero mais/ Não é desejo, nem é saudade/ Sinceramente, nem é verdade..." (Renato Russo)

Tuesday, March 04, 2008

Todas as nossas artificialidades

Vivemos hoje uma corrida contra o relógio. Não há tempo para uma conversa com alguém que não vemos há tempos, não há tempo para passear sem se preocupar com nada, não há tempo para a reunião de pais e mestres do filho, não há tempo nem mesmo para se alimentar bem!

E não é raro termos nas nossas vidas tudo pronto. Já parou pra reparar quanto pó existe em nossas vidas? Suco, café, leite, sopa, chocolate, bolo, sabão... Tudo para nos ajudar nessa falta de tempo. Já foi o dia em que sair num sábado para comprar tecidos para as roupas do fim-de-ano era diversão. Hoje, compra-se tudo pronto. É só fazer uns ajustes.

Cuidar da saúde, então? Estamos tão cansados do dia todo de trabalho que sair para uma caminhada, ir à academia ou conversar com os vizinhos podem esperar para amanhã. E amanhã, mesmo que haja folga, temos que cuidar da casa, pagar contas, ir ao mercado. Não há tempo para o lazer.

Não há mais remédio caseiro, bolo caseiro, comida caseira. É tudo comprado. Mais rápido e não se perde tempo. As crianças? Ah, elas passam a maior parte do tempo no computador ou video game. Não gosta de brincar na rua, não empina pipa, não solta pião nem brinca de boneca. E não falamos nada, afinal, a coitada também estuda tanto, faz inglês, natação, piano, karatê, futebol que nem quer sair pra rua. Melhor ver televisão em casa.

Aliás... nem sei como meus filhos estão na escola. Devem estar bem, ninguém ligou até agora de lá pra reclamar. Puxa... meus filhos... estão tão crescidos... nem vi isso acontecer! Será que já estão de namoricos? O que têm feito? Não sei... não conversamos há semanas! Aliás... quando foi mesmo que conversei com alguém?
Bom... não importa. Melhor eu parar por aqui porque tenho muito a fazer ainda.

Momento de histeria: "Procuramos ETs e cometas e nem conhecemos os nossos vizinhos!" (Gabriel, o Pensador)