Vulneráveis em meio à tanta tecnologia

A mídia é algo curioso mesmo. Há um tempo atrás, o apresentador global Luciano Huck escreveu na Folha de São Paulo sobre sua indignação pela falta de segurança brasileira após ter seu rolex roubado. Depois disso, várias declarações e reportagens sobre o grande "furo de notícia". Saiu até na capa da Veja, vejam só! O senhor só se deu conta da violência a que todos nós, reles mortais, estamos submetidos cotidianamente? Só porque o senhor paga impostos, assim como eu, que se achava inatingível por esse problema social do país? E o pior: vai choramingar por causa do seu precioso, porém não necessário relógio de ouro que o seu rico dinheirinho pode pagar??? Você não precisa trabalhar mais um mês para conseguir outro, garanto. Vou contar-lhe uma historinha verídica então... Mas não chore! Talvez você não a considere muito diferente da sua.

Na semana passada, uma das minhas colegas de trabalho (sou professora estadual, deixe-me dizer) chegou desesperada para conversar comigo. Sua filha havia sido roubada pela segunda vez em uma semana. A primeira, foi ao voltar da escola e levaram o celular da menina; presente de aniversário antecipado. Na segunda, e então motivo de angústia da colega, três homens, encapuzados, abordaram-na e disseram para entregar o dinheiro. Ela o fez de imediato e pediu para que a deixassem ir. Mas não deixaram. Ela tentou correr, mas foi puxada pelos cabelos. Apavorada, ela começou a gritar por socorro, mas ninguém aparecia. Por um lance de sorte, ou providência divina, como quiser nominar, a jovem conseguiu se soltar e correu até o encontro de um rapaz que passava pela rua. Os ladrões fugiram.

A professora me contou com lágrimas nos olhos, imaginando o que poderia ter acontecido com a filha caso ela não conseguisse se desvencilhar dos bandidos. Imagine você, o que poderia ter acontencido com uma adolescente de 16 anos numa situação dessa!! E se ela fosse sua filha!!! E você sem poder fazer absolutamente nada. Aliás, sem saber de nada, porque está trabalhando. Mais um pequeno detalhe: a menina havia saído de casa para ir à padaria trocar o dinheiro para comprar gás. Isso mesmo, senhor Huck, gás de cozinha! E não um mimo, como uma jóia.

Assim como tantas meninas, meninos, mulheres, idosos e até crianças estão submetidos a absurdos como esses. Aliás, muito piores. E, assim como você, pagam impostos e se sentem igualmente violentados. Mas a mídia já não se importam muito com isso. Não dá ibope, não dá audiência. A diferença? Talvez muitos, ou quase todos, terão que trabalhar mais um mês para comprar gás ou um celular, ou a dignidade que os roubam. Mas você talvez não entenda como é isso...

Um site para quem gosta de ler outros pensamentos: www.ederfonseca.com.br, de um universitário inquieto.


Momento de histeria: "Indignação/ Indigna/ Indigna/ Nação" (Skank)